Jaime Batalha Reis - Beijos no calvário

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Noite imensa no céu - silêncio sem um grito.

As trevas começando além do infinito

Não vinham terminar na terra, mas subiam

Do negro informe chão ao Céu onde se uniam.

Era imensa cortina arrojada do Céu

Sem pressas, uniforme, - escuro e vasto véu!

Uma noite infinita estendida no espaço.

Horizontes dessa luz - as trevas só em abraço.

Imóvel quase sempre a cena se mostrava

Da morta criação. A vista adivinhava

A espaços pelo ar, pedaços dessa noite

Voando negros, sós, como se o vasto açoite

Que faz girar a terra, os mundos mais distantes,

Pusesse em movimento astros muito errantes.

Fernando Pessoa - Onda que enrolada...

Fonte

Onda que, enrolada, tornas,
Pequena, ao mar, que te trouxe
E ao recuar te transtornas
Como se o mar nada fosse,

Porque é que levas contigo
Só a tua cessação,
E ao voltar ao mar antigo,
Não levas meu coração?

Há tanto tempo que o tenho
Que me pesa de o sentir
Leva-o no som sem tamanho
Com que te oiço fugir!